Há poucos anos atrás, nos meus teen years, num qualquer mês de verão, estava eu sentada na praia que todos os dias dessa estação me acolhia, sem que eu lhe falhasse ou ela a mim. Pés enterrados, uma mão no gelado que me refrescava, a outra brincava infinitamente com os grãos de areia e um olhar saudoso em direcção ao mar, como se já soubesse, de antemão, sem que nada me fizesse prever, que um dia aquele lugar me faltaria. Não me recordo com precisão com quem dividia areal. Por norma éramos para lá de vinte. Estendíamos as toalhas à volta da barraca do banheiro - que lá na terra é assim mesmo que se diz, banheiro - e ficávamos por lá até o sol começar a descer ou até os pais começarem a ligar "onde é que andas que o jantar já está pronto?". Nunca estava, mas eles bem sabiam que era a única forma de os fazer estar em casa a horas. "Ainda na praia? Mas tu não tens mais vida que é praia? E esta relva aqui a precisar tanto de uma regadela". "Não, pá, já estou quase em casa, já passei a fazenda do tio Joaquim e tudo". Mas dizia eu que não me recordo com precisão que almas me acompanhavam, mas lembro-me que a Madalena tinha trazido uma prima que vinha lá da capital. Era extrovertida, super gira, falava de uma maneira estranha e não se calava. Formamos uma espécie de círculo de cinco. Ela vai falando, eles vão ouvindo, eu vou namorando o azul que me preenche a vista. Às tantas, presto-lhe atenção às palavras. Falava de uma chatice qualquer com uma amiga lá de Lisboa. Que ela era muito mimada. Que queria as coisas como queria. Que andava perdida de amores pelo rapaz da loja dos all stars, mas que nada fazia sobre isso. Que era muito envergonhada. E que agora queria sempre ir àquele centro comercial e não a outro. E parece que ela estava farta, que queria conhecer novos centros comerciais, com mais lojas e que a tal amiga lhe cortava os horizontes. Por isso tinham discutido e já não eram mais amigas. E que uma reconciliação só era possível se a outra lhe dirigisse um sofisticado pedido de desculpas. O Pedro estava deitado ao meu lado e na sua inocência, pensando que aquilo era um momento de troca de ideias, diz-lhe: Não achas que estás a exagerar um bocadinho? E a moça grita-lhe prontamente: Mas alguém te pediu opinião? Vai meter te na tua vida. Olhámos todos uns para os outros, parvos, sem que nada dissessem, voltaram-se todos para o mar e acompanharam-me na minha contemplação da paisagem. Na nossa cabeça ecoava, exactamemte, o mesmo pensamento: Olha, esta é tontinha da cabeça.
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