quinta-feira, 16 de março de 2017

Há gente com sorte

Há quem tenha cães extraordinários. Que lhes ensinam a cozinhar, a fazer compras, a lavar o chão ou a ser pais. O meu só me ensina a lamber pratos.

quarta-feira, 15 de março de 2017

Como em tudo na vida

Regra geral, percebes que uma música é boa quando, para além de tocar no rádio, te toca no coração. Depois...Oh, depois há aquelas que bem sabes que é lixo, mas não resistes a dar um pezinho de dança.

terça-feira, 14 de março de 2017

Há coisas que não mudam

Há poucos anos atrás, nos meus teen years, num qualquer mês de verão, estava eu sentada na praia que todos os dias dessa estação me acolhia, sem que eu lhe falhasse ou ela a mim. Pés enterrados, uma mão no gelado que me refrescava, a outra brincava infinitamente com os grãos de areia e um olhar saudoso em direcção ao mar, como se já soubesse, de antemão, sem que nada me fizesse prever, que um dia aquele lugar me faltaria. Não me recordo com precisão com quem dividia areal. Por norma éramos para lá de vinte. Estendíamos as toalhas à volta da barraca do banheiro - que lá na terra é assim mesmo que se diz, banheiro - e ficávamos por lá até o sol começar a descer ou até os pais começarem a ligar "onde é que andas que o jantar já está pronto?". Nunca estava, mas eles bem sabiam que era a única forma de os fazer estar em casa a horas. "Ainda na praia? Mas tu não tens mais vida que é praia? E esta relva aqui a precisar tanto de uma regadela". "Não, pá, já estou quase em casa, já passei a fazenda do tio Joaquim e tudo". Mas dizia eu que não me recordo com precisão que almas me acompanhavam, mas lembro-me que a Madalena tinha trazido uma prima que vinha lá da capital. Era extrovertida, super gira, falava de uma maneira estranha e não se calava. Formamos uma espécie de círculo de cinco. Ela vai falando, eles vão ouvindo, eu vou namorando o azul que me preenche a vista. Às tantas, presto-lhe atenção às palavras. Falava de uma chatice qualquer com uma amiga lá de Lisboa. Que ela era muito mimada. Que queria as coisas como queria. Que andava perdida de amores pelo rapaz da loja dos all stars, mas que nada fazia sobre isso. Que era muito envergonhada. E que agora queria sempre ir àquele centro comercial e não a outro. E parece que ela estava farta, que queria conhecer novos centros comerciais, com mais lojas e que a tal amiga lhe cortava os horizontes. Por isso tinham discutido e já não eram mais amigas. E que uma reconciliação só era possível se a outra lhe dirigisse um sofisticado pedido de desculpas. O Pedro estava deitado ao meu lado e na sua inocência, pensando que aquilo era um momento de troca de ideias, diz-lhe: Não achas que estás a exagerar um bocadinho? E a moça grita-lhe prontamente: Mas alguém te pediu opinião? Vai meter te na tua vida. Olhámos todos uns para os outros, parvos, sem que nada dissessem, voltaram-se todos para o mar e acompanharam-me na minha contemplação da paisagem. Na nossa cabeça ecoava, exactamemte, o mesmo pensamento: Olha, esta é tontinha da cabeça.
Ele insistia comigo. Que a bicicleta que tinha comprado na chegada à Holanda era muito pequena para mim. Que eu devia experimentar outras. Que ia ver como me ia sentir mais confortável, ter uma melhor condução. E eu insistia que não. Que estava bem do jeito que estava. Que me sentia confortável na minha bicicleta de sempre. Que era uma bicicleta espectacular. Que queria manter-me fiel à bicicleta que me tinha feito feliz por mais de um ano. E ele voltava a insistir. Que eu precisava de experimentar novas bicicletas. Que só assim perceberia a diferença. Que assim como assim mal não ia fazer. Que a minha bicicleta não ia derramar lágrimas por experimentar algo novo por um dia. E que então eu podia tirar as minhas próprias conclusões. E eu, lá num dos meus momentos de fraqueza, que uma pessoa bem quer mas ainda não é de ferro, lá me deixo convencer. E em jeito envergonhada lá lhe digo, que sim senhora, que tinha razão, que uma bicicleta alta era muito melhor, que fazia toda a diferença, que maravilha. Que tinha andado eu a perder durante um ano...

segunda-feira, 13 de março de 2017

Por coisas cá da minha vida, tive um daqueles dias de choro incontrolável, em que nada nos conforta, que a almofada torna-se na nossa melhor amiga, em que o acto de viver significa levantar-me da cama, única e exclusivamente, para abrir a porta ao entregador de sushi - sim, que se é para deprimir ao menos que seja em bom - e enfardar séries como se não houvesse amanhã. E nos minutos que cada episódio demorava a carregar eu lá ia pensando para os meus botões, que isto não podia ser, que estar deprimida nos dias de hoje é coisa chata, que havia duas máquinas de roupa para fazer, que a loiça da ceia da noite anterior ainda estava por lavar, que havia necessidade de ir ao supermercado, e o chão, ai o chão, credo, que precisava tanto de ser aspirado. Abro o chuveiro e sento-me lá a sentir a água a escorrer-me pelo corpo. Uns trinta minutos de desperdício de água, à vontadinha. Há medida que o tempo passa começo a sentir-me melhor, que isto de lavar o corpo parece que nos lava a alma também e começo a aperceber-me que esta mania de estar deprimida era coisa chata mesmo. O meu banho de relaxamento já tinha morto umas dez criancinhas em África de sede. Se eu fosse uma protectora extremista do ambiente não havia cá destas paneleirisses de ficar deprimida. Ora essa.


Diz que há poucos blogues por aí...

Dou-lhe duas semanas.